Namo Lokeshvaraya
             Avalokiteshvara! Protector e Mestre Supremo!
             Ainda que reconheças a não aparição                e a não cessação dos fenómenos
             Dedicas-te totalmente ao bem dos seres.
             Perante vós, contínua e respeitosamente, eu me prosterno                com o meu corpo, a minha palavra e a minha mente.
Os perfeitos iluminados, fontes de felicidade e bem últimos
             Surgem da realização do Sagrado Dharma
             Uma vez que esta capacidade depende de o saber praticar
             Aqui explicarei a prática dos Bodhisattvas
1.
Neste momento ao obtermos a rara e grande nave com todas as liberdades                e riquezas
             Aplicarmo-nos, dia e noite e sem qualquer distracção,                à escuta, à reflexão e à meditação
             A fim de nos libertarmos a nós mesmos e a todos os outros                do oceano do samsara
             É a prática dos Bodhisattvas
2.
No nosso país natal o apego corre como um rio
             E o ódio aos inimigos brilha como um fogo.
             Obscurecidos pela escuridão da ignorância esquecemos                o que se deve aceitar e o que se deve rejeitar.
             Abandonar este lugar é portanto a prática dos Bodhisattvas.
3.
Longe dos lugares negativos as emoções perturbadoras                acalmam-se gradualmente.
             Livre das distracções, a prática da virtude                aumenta espontaneamente.
             Quando a consciência se torna clara, a confiança no                caminho cresce.
             Retirar-se para um local solitário é a prática                dos Bodhisattvas.
4.
Os companheiros que há muito caminham juntos, um dia separar-se-ão.
             As riquezas arduamente conseguidas, um dia abandonar-se-ão.
             Até a consciência, qual hóspede, um dia deixará                a sua pensão, o corpo.
             Abandonar as preocupações desta vida é a prática                dos Bodhisattvas.
5.
Em má companhia os três venenos aumentam
             A actividade do estudo, da reflexão e da meditação                degeneram,
             E o amor e a compaixão desaparecem
             Separar-se das más companhias é a prática dos                Bodhisattvas.
             6.
Quando confiamos no sagrado amigo espiritual, as nossas faltas                esgotam-se
             E, qual lua crescente, aumentam as boas qualidades.
             Considerá-lo mais precioso que o próprio corpo
             É a prática dos Bodhisattvas.
7.
A quem são os deuses mundanos capazes de proteger,
             Eles mesmos presos na prisão do samsara?
             Tomar refúgio nas Três Jóias Infalíveis
             Essa é a prática dos Bodhisattvas.
8.
Buda ensinou que todos os sofrimentos dos reinos inferiores, extremamente                difíceis de suportar,
             São o fruto das más acções de cada um.
             Abster-se constantemente, mesmo a custo da própria vida,                da prática das más acções
             É a prática dos Bodhisattvas.
9.
A felicidade dos três reinos, qual gota de orvalho sobre                uma haste de erva,
             Desaparece naturalmente de um momento para o outro.
             Esforçar-se por alcançar a suprema e imutável                libertação,
             É a prática dos Bodhisattvas.
10.
Quando estão a sofrer todas as nossas mães que, desde                tempos imemoriais, nos trataram desveladamente
             Que importância tem a nossa felicidade?
             Gerar a mente de Iluminação com o objectivo de libertar                os infinitos seres sencientes
             É a prática dos Bodhisattvas.
11.
Todo o sofrimento sem excepção procede do desejo                de uma felicidade egoísta.
             A perfeita Iluminação surge do pensamento de beneficiar                os outros.
             Trocar verdadeiramente a própria felicidade pelo sofrimento                dos demais
             É a prática dos Bodhisattvas.
12.
Dedicar o nosso corpo, a nossa felicidade e os nossos méritos                passados presentes e futuros
             A quem, sob o poder de um grande desejo,
             Rouba as nossas posses ou incita alguém a fazê-lo
             É a prática dos Bodhisattvas.
13.
Mesmo que, apesar da nossa inocência,
             Alguém nos corte a cabeça.
             Pela força da compaixão, tomar sobre nós todos                os erros
             É a prática dos Bodhisattvas.
14.
Elogiar, repetindo com amorosa atitude as qualidades de uma pessoa
             Ainda que esta propague por todos os três mil milhões                de universos
             Rumores desagradáveis a nosso respeito.
             É a prática dos Bodhisattvas.
15.
Se alguém no meio de uma multidão
             Revelar as nossas faltas e nos proferir palavras duras
             Reverenciar esta pessoa como a um amigo espiritual
             É a prática dos Bodhisattvas.
16.
Mesmo que alguém, a quem cuidamos com o carinho que temos                pelo nosso próprio filho,
             Nos trate como seu inimigo
             Qual mãe cujo filho está acometido de grave doença,
             Redobrar de amor por essa pessoa é a prática dos Bodhisattvas.
17.
Mesmo que uma pessoa igual ou inferior a nós
             Por orgulho nos difame
             Venerá-lo como a um Mestre no topo da coroa da nossa cabeça,              
             É a Prática dois Bodhisattvas.
18.
Ainda que privados da nossa subsistência, sujeitos à                constante depreciação de todos
             Ou atingidos por doença grave ou força demoníaca
             Tomar sobre nós os sofrimentos e os actos negativos de todos                os seres, Sem ficar deprimido, é a prática dos Bodhisattvas.
19.
Embora famosos, por todos reverenciados
             E tão ricos quanto Vashravana. Permanecer sem arrogância,
             Por ter percebido quão vãs são as glórias                e as riquezas desta existência,
             É a prática dos Bodhisattvas.
20.
Sem dominar o inimigo que é a nossa própria raiva,
             Tentar subjugar os inimigos externos apenas irá aumentá-los
             Subjugar a nossa mente por meio de exércitos de amor, bondade                e compaixão
             É a prática dos Bodhisattvas.
21.
Os prazeres dos sentidos são como a água salgada
             Quanto mais os experimentamos mais o desejo aumenta.
             Abandonar de imediato todos os objectos geradores de apego
             É a prática dos Bodhisattvas.
22.
Todas as aparências são a nossa própria mente.
             A natureza primordial está para além de todas as construções.
             Sabendo isto, não construir a dualidade sujeito-objecto
             É a prática dos Bodhisattvas.
23.
Ao encontrar um objecto belo.
             Considerar que tem a natureza de um arco-íris num dia de                verão,
             Percebê-lo atraente ainda que não verdadeiramente existente,                Abandonando assim todo o desejo e apego, é a prática                dos Bodhisattvas.
24.
Os diferentes sofrimentos são como sonhar com a morte do                nosso filho.
             Como é cansativo tomar as aparências por realidade.
             Perante circunstâncias adversas, considerá-las ilusórias
             É a prática dos Bodhisattvas.
25.
Se aquele que aspira atingir a Iluminação deve oferecer                até o próprio corpo
             Quanto mais os objectos exteriores!
             Ser generoso sem qualquer expectativa pelo resultado ou a recompensa
             É a prática dos Bodhisattvas.
26.
Se sem disciplina é impossível realizar o próprio                bem,
             Quanto mais pensar em assim realizar o dos outros.
             Manter uma disciplina sem quaisquer ambições mundanas
             É a prática dos Bodhisattvas.
27.
Para um Bodhisattva que anseia pelos prazeres da virtude,
             Todos os que lhe fazem mal são como tesouros preciosos.
             Cultivar uma paciência livre de ódio ou animosidade                contra quem quer que seja
             É a prática dos Bodhisattvas.
28.
Mesmo os Shravakas e os Pratyeka-Buddhas, que apenas alcançam                o bem pessoal
             São tidos como tão persistentes como aqueles que tentam                apagar um fogo nos seus próprios cabelos.
             Acumular diligência para o bem de todos os seres é                a fonte de todas as qualidades.
             Assim é a prática dos Bodhisattvas.
29.
Tendo compreendido que a visão penetrante, baseada na calma                mental,
             Destrói completamente as emoções negativas              
             Cultivar uma concentração meditativa que verdadeiramente                transcenda os quatro reinos sem forma
             É a prática dos Bodhisattvas.
30.
Sem a Sabedoria as cinco outras Paramitas não são                suficientes.
             Para se alcançar a Perfeita Iluminação
             Treinar a sabedoria dotada de método e livre dos conceitos                de sujeito-objecto-acção
             É a prática dos Bodhisattvas.
31.
Se não examinamos a nossa própria ilusão
             Podemos ter a aparência de um praticante do Dharma enquanto                fazemos o que não é Dharma
             Observar sempre as nossas imperfeições e abandoná-las
             É a prática dos Bodhisattvas.
32.
Se sob o poder das emoções negativas, difamamos ou                expomos as faltas de outros Bodhisattvas
             Nós próprios ficaremos corrompidos
             Não expor as faltas daqueles que entraram no Grande Veículo
             É a prática dos Bodhisattvas.
33.
As discussões, debates e argumentações com                o intuito de adquirir honras e riquezas
             Degeneram as actividades do estudo da reflexão e da meditação
             Desistir de todo o apego à família, ao lar, aos amigos                e aos nossos patrocinadores
             É a prática dos Bodhisattvas.
34.
Palavras duras perturbam a mente dos outros
             E fazem degenerar a conduta dos Bodhisattvas
             Renunciar a toda a palavra que magoa os demais
             É a prática dos Bodhisattvas.
35.
Quando habituados a emoções negativas torna-se difícil                revertê-las com antídotos.
             Por isso, logo que o apego ou as outras surjam
             No primeiro instante da sua presença mental, usar o antídoto                como arma que destrói essas emoções
             É a prática dos Bodhisattvas.
36.
Em resumo, onde quer que estejamos e o que quer que façamos,
             Devemos interrogarmo-nos sobre o estado da nossa mente.
             Beneficiar os outros mantendo um estado mental continuamente atento                e vigilante
             É a prática dos Bodhisattvas.
37.
Para que todas as virtudes assim diligentemente alcançadas
             Possam purificar o sofrimento de um ilimitado número de seres                sencientes
             Com a sabedoria que está livre dos conceitos de sujeito-objecto-acção
             Dedicarmos toda a virtude destas práticas à Iluminação
             É a prática dos Bodhisattvas
De acordo com o sentido ensinado nos Sutras, nos Tantras e nos                Shastras
             E seguindo os ensinamentos dos Seres Sagrados
             Formulei estes versos de “As Trinta e Sete Práticas                dos Bodhisattvas”
             Para o benefício daqueles que se querem treinar no caminho                dos Bodhisattvas.
Por ser de inteligência inferior e por ter pouco estudo
             Esta não é uma obra que vá deleitar os eruditos
             Mas, como se baseia nos ensinamentos dos Sutras e dos Seres Sagrados
             Creio que “As Trinta Sete Práticas dos Bodhisattvas”                estão livres de erros.
Contudo, uma vez que a vasta conduta dos Bodhisattvas
             É difícil de compreender por alguém que, como                eu, tem um intelecto inferior,
             Peço perdão aos Seres Sagrados
             Pelos possíveis erros contradições e incoerências.
PELA VIRTUDE RESULTANTE DESTA OBRA POSSAM TODOS                OS SERES
             ATRAVÉS DA SUPREMA MENTE DE ILUMINAÇÃO RELATIVA                E ABSOLUTA
             TORNAREM-SE IGUAIS AO PROTECTOR AVALOKITESHVARA
             QUE NÃO PERMANECE EM NENHUM DOS EXTREMOS, SAMSARA OU NIRVANA
             Estes versos foram compostos na caverna Ngulchu Rinchen pelo monge                Togme,um proponente de escritura e lógica,com o intuito de                fazer o bem à sí e aos outros.
Traduzido do inglês para o português do Brasil por Ida Bernstein
Revisto para o português do Brasil por Lúcia Soares
Revisto para o português de Portugal por ani N. T.
Editado por Iraneide C. Oliveira
Digitado por Sylvia Abramson
Casa da Cultura do Tibete
 
 
 
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Um comentário:
Muito boa essa tradução.
Obrigado.
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