terça-feira, 16 de setembro de 2008

Impermanência, Dharma e Interdependência



Impermanência... conceito tão simples e ao mesmo tempo tão importante. Tão importante se torna que pode mesmo mudar vidas.

Pessoas que por alguma razão olham mais de perto este conceito, mudam certamente o rumo das suas vidas... outras que estejam despertas para esta realidade valorizam-no a cada dia que passa. Quem nunca ouviu falar de pessoas que têm experiências de quase-morte e que depois de virem a si, regra geral, alteram as suas prioridades na vida, começam a dar importância àquilo que é realmente importante.

O conceito de impermanência é aquele que define que tudo é passageiro, efémero, que nada é eterno.
Ao vermos a realidade com estes olhos qualquer que seja a situação que se nos atravesse no caminho, somente podemos perceber que é um instante na nossa vida, embora naquele momento nos possa parecer uma eternidade.

Senão vejamos:
  • quão significativo é lidar com uma pessoa mal-humorada durante uns minutos, horas ou mesmo dias se essa pessoa tem que conviver consigo própria durante 24 horas por dia, durante toda uma vida?
  • que poderá significar o nervosismo de um engarrafamento no trânsito citadino durante uns minutos ou mesmo umas horas, quando podemos apreciar a paisagem, aproveitar para ouvir uma boa música, estar algum tempo só connosco?
  • o que significará a morte em si mesma se encararmos a impermanência como um factor que faz parte da nossa vida e ao qual ninguém pode escapar?
Muitos exemplos poderiam ser dados para retratar a sua importância. Apenas estejamos plenamente conscientes de que, quando se nos deparar uma situação mais difícil, podemos reagir de duas formas: acreditarmos que é um momento passageiro que nos vai permitir progredir e melhorar a nossa percepção da vida, ou então, embrenharmo-nos plenamente no acontecimento e deixarmo-nos levar por toda a catadupa de sensações e sentimentos, que daí a pouco terão passado mas que terão deixado a sua marca e que só contribuirão para ficarmos mal connosco próprios e com os outros.


Os seres humanos inflingem a si próprios sofrimento quando consideram o seu ego como permanente, entrando assim em conflito com um mundo em constante mudança, à qual ninguém poderá escapar.

Deste modo, é de toda a urgência que acordemos para o Dharma, a verdade da impermanência. O termo Dharma refere-se a inúmeros conceitos incluindo verdade, virtude, ensinamentos e Nirvana. Mas Dharma significa, acima de tudo, a mudança que ocorre quando acordamos para a verdadeira natureza das nossas vidas.

Buda Shakyamuni acordou para o Dharma da impermanência enquanto meditava debaixo de uma árvore e foi nesse instante que percebeu que todos os seres vivos, sejam eles humanos, animais ou plantas um dia haveriam de desaparecer deste mundo. Deste modo, sentiu grande compaixão por todos os seres sencientes e viu então que somos todos interdependentes. A partir desse momento Buda decidiu dedicar o resto da sua vida ensinando as pessoas a aceitarem a impermanência como forma de acabar com o sofrimento.

Mas o Dharma não pode ser ensinado às pessoas de uma forma tradicional. A mudança apenas ocorre quando estamos "plenos" de Dharma e podemos ser um exemplo para os demais. É então que "acordamos" para o facto de que toda a vida está interligada, como se de um entrelaçado de tapeçaria se tratasse. E aí sentimos verdadeira compaixão por tudo o que tem vida.

Dharma também significa Nirvana, esse estado último alcançado quando interiorizamos verdadeiramente as causas da nossa auto-centrada insatisfação. Podemos alcançá-lo com uma mente saudável, que é outro significado de Dharma. Para atingirmos esta mente virtuosa, temos que estar aptos a aprender, porque Dharma também é ensinamento - qualquer ensinamento que nos ajude a alcançar um estado de compaixão pode ser considerado Dharma.

A palavra Dharma é um guia precioso no caminho para a iluminação. Ao abrirmos a mente para os ensinamentos que todos os dias nos cercam, começamos a interiorizar uma nova e saudável mentalidade. Os nossos mestres podem assumir muitas formas, desde uma pessoa da nossa família, um amigo... até uma frase, um livro ou uma provação mas também podemos encontrar esse guia dentro de nós próprios. Ao despertarmos para a verdade da nossa interdependência e impermanência incorporamos a própria e última verdade.


"Enquanto houver algum ser senciente,
Onde for, que não tenha sido libertado,
Que eu possa permanecer por sua causa,
Mesmo que eu já tenha atingido a iluminação."

Extracto da Prece dos Sete Ramos, de Nagarjuna

Nenhum comentário: